a minha avó já montou harold pinter

hoje é sabado; é o unico dia da semana que eu tenho livre, livre pro ócio.

porém eu tinha alguns compromissos com os meus dependentes: pegar a chanel lá na vó e leva-la pra tomar sua primeira vacina e depois voltar pra casa e ir passear com o valentino que anda muito agitado.

mas hoje eu andei de ambulância pela primeira vez.

a minha avó é minha inspiração pra muitas coisas, desde saber quem é pierre cardin e a importância do ysl na moda do mundo, desde aprender a costurar, a cozinhar, a colecionar e a ver tv. e pra outras não, ela é arrogante muitas vezes e não soube envelhecer e lidar com o fato de estar com 87 anos.

ela teve um AVC quando eu tinha uns 11 anos mais ou menos, não me lembro muito bem, mas lembro dos sintomas.

eu cheguei na casa dela hoje, e me assustei com o jeito que ela tava falando, enrolando a lingua, falando muito baixo, meio sonolenta, perdida falando que estava vendo uma mulher dentro do guarda roupa e que a minha cara tava toda pintada de vermelho.

fui levar a chanel pra tomar vacina.

voltei.

nisso a minha mãe que não mora em porto alegre, estava a caminho da capital num ônibus, porque a minha avó, mais cedo tinha ligado pra ela.

e o que que eu ia fazer?

esperei mais um pouco e era triste ver como ela sabia que estava alucinando, que de fato não tinha ninguém dentro do guarda roupa, mas ela via.

o cerebro engana.

liguei pra ambulancia.

40minutos depois eles chegaram.

após muita conversa, sobre muitas coisas e muitas questões minha avó oferece coca cola pra equipe da unimed,

sim, ela é maravilhosa.

e larga a seguinte frase: 'doutora, a senhora já me fez tantas perguntas né?posso perguntar uma coisa?qual teu nome?

adriana, diz a médica.

ah ok adriana, muito prazer. agora a gente pode continuar nosso papo'

e logo depois disso me perguntou o que eram os peixes nadando embaixo da mesa. peixes amarelos.

[nisso, minha mãe ja estava chegando em porto alegre e ia nos encontrar no hospital]

e aí fomos de ambulância até o mãe de deus, chegamos lá as 15h, enfim, se confirmou o que se achava [só se confirmou as 22h30] mais um acidente vascular cerebral.

ela não quis ficar pelada no quarto porque tinham cinco homens de preto olhando.

ela tá lá no mãe de deus, baixou hospital, tá em observação (pelos médicos, pelos homens de preto?)

a gente chegou agora em casa, 23h30. foram horas no hospital esperando, aguardando.

não tem hora nem dia pro cerebro nos trair.

pense um pouco no velho que você quer ser.

minha avó nasceu em 1925!

fui dar boa noite pra ela e disse 'vó como tu tá cheirosa.' e ela: 'mas tu ta com uma cara horrivel hein minha boneca! a doente aqui sou eu! te ajeita.'

vim pra casa dormir, me ajeitar.

fui de ambulância e voltei de carro.

amanhã demanhã vou a pé pro hospital me mexer, afinal quero viver até os 87 anos.